É 2023: A Era dos Arjumentos

Daniel Hilário
3 min readOct 17, 2023

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Uma imagem que mostra uma silhueta de cabeça humana formada por diversos logos de redes sociais, como: twitter, youtube, facebook, dentre outros.
Homo Redus em todo seu esplendor

Infelizmente, achávamos que, em 2023, teríamos carros voadores. A notícia boa é que até temos, sobretudo protótipos ainda, não economicamente, viáveis. No entanto, um aspecto mais sombrio da contemporaneidade são as redes sociais.

Não serei ingrato em dizer que elas não servem para nada, até porque conheci meu atual bem-querer por uma. No entanto, elas deram azo a uma faceta humana que só víamos e conhecíamos em reuniões de família ou em conversas de bar: A necessidade de emitir opiniões não solicitadas sobre todas as coisas.

Façamos, claro, um recorte: Comentar uma matéria jornalística, evidentemente, é algo natural (não leiam os comentários dos sítios eletrônicos), pois muitas vezes as pessoas querem extravazar sobre algum fato, ou contrapor algo dito por um colunista.

Porém, se levarmos em consideração a grande disseminação de notícias falsas, e a, suposta, preguiça de se buscar os fatos por trás das opiniões jornalísticas, temos o caldeirão perfeitos para eles, os arjumentos.

Mas o que seriam os arjumentos? Diferentemente de seus parentes próximos, os argumentos, que se estruturam de uma forma racional e respeitosa, os arjumentos não nascem da razão, mas sim da emoção desbragada, e não possuem qualquer respeito pelo interlocutor.

Na verdade, o que se busca é ter razão a qualquer custo, mesmo que, em algum caso, ter razão não seja necessário, porque os fatos, por si só, demonstram o que é real e o que é fantasioso.

Um exemplo: fato é que vacinas salvam vidas, isso está comprovado por meio de estudos sérios, calcados no método científico.

As opiniões que muito se ouviram: Não me vacinarei, porque a vacina vem da China; ou porque foi feita muito rapidamente; ou porque tem chip/nano robôs/magnetiza o sangue.

Veja, não há qualquer correlação entre a eficácia das vacinas, que é um fato consumado, e os arjumentos usados para rechaçá-la. Que tem a ver uma vacina chinesa? Que tem a ver o período de elaboração (apesar de todos os testes clínicos)? Que prova séria há que comprove que há algum chip ou nano robôs ou que magnetize pessoas? A resposta é uma só: Absolutamente nada.

Se você, ou eu, ou nós, tirarmos aqueles dois segundinhos de consciência, veremos que são questões que não se sustentam, que não possuem qualquer arcabouço lógico que demonstrem que se trata de algo racional. Basta refletir, para se ver que é algo inflamado por uma emoção fora de propósito.

Mas, para se escapar de um dever coletivo de cuidado, vale qualquer opinião, mesmo que ela seja totalmente dissociada da realidade. Ou seja, vale qualquer coisa para que o “EU” seja mais importante que o “NÓS”.

E quem ganha com isso? Certamente não sou eu, e nem você. Afinal, ao se enfraquecer o todo coletivo, em prol de uma individualidade exacerbada, deixamos de lutar por nossos direitos, e passamos a lutar entre nós, pois voltamos ao “olho por olho, dente por dente”. Ou nos vemos nas filas dos ossos, enquanto alguns comem o filé mignom.

Evidente que se trata de uma patuléia, um pastiche egoísta para colocar a individualidade no lugar da coletividade, colocar o indivíduo à frente do bem estar social, afinal, contra fatos não há argumentos, mas, com certeza, há arjumentos.

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