Aquele olhar
Não foi a primeira, nem a última vez que o vi.
Aqueles grandes e redondos olhos negros, e aquele olhar.
Anteriormente, não me diziam nada.
Porém, dessa vez, ele, o olhar, me evocava ódio.
Mas não qualquer ódio.
Não era um ódio do hoje.
Não era um ódio de agora.
Era um ódio antigo.
Era um ódio do que já aconteceu.
E que acontece até hoje.
Das falsas promessas.
Dos falsos deuses e céus.
Da falsa salvação.
Tudo em nome de uma pretensa cooperação.
Tudo em nome de uma pretensa civilização.
Tudo em nome de um pretenso dever.
“Dever” esse, que até hoje nos adocica.
“Dever” esse, que até hoje nos coloca em submissão.
“Dever” esse, que nos aprisiona em falsa gratidão.
Aquele olhar, grave e tenso, abriu meus olhos.