Desde quando felicidade deve ser individual?

Daniel Hilário
3 min readJan 4, 2023
Oi de novo!

MPB-4, em seu disco Cicatrizes (1972), lançou a música título que diz o seguinte: “Acho que estou pedindo uma coisa normal, felicidade é bem natural”.

De fato, felicidade é bem natural, todo ser que tem sentimentos, ou algum rudimento que a eles se assemelhe (não somente o puro instinto), merece ser feliz, ou experimentar a felicidade em algum momento da vida. Todos merecemos uma folga.

Ultrapassada essa questão, sempre me pergunto que tipo de felicidade buscamos, a individual ou a coletiva, aquela que só satisfaz a um, ou a que todos aproveita? E fica a questão: O que você prefere?

Vivemos em tempos, por demais, egoístas. Os últimos seis anos, a que gosto de chamar de “era do empoderamento dos calhordas”, vimos a ascensão de seres humanos medíocres, que só pensam em sua própria satisfação e, para tal, fazem o que for necessário, até usar sua influência para espalhar mentiras que calam fundo no populacho.

Assim, vimos multidões movidas à contrassensos como o uso de remédios comprovadamente, ineficazes, contra doença cuja prevenção é isolamento, vacinação e uso de máscaras. Aliás, demonizaram-se as vacinas, dizendo que elas continham chips e/ou nanorrobôs, em roteiros dignos de ficção científica de baixa categoria.

Mais do que isso, passamos ao endeusamento do “empreendedorismo”, afinal, nos dizeres de quem não gera empregos: “para gerar empregos, seria necessário abrir mão de direitos”, em momento em que o país, mesmo que em métrica torta, estava próximo ao pleno emprego.

Por isso, se apostou na desidratação de inúmeros mecanismos garantidores do mínimo possível para as pessoas, e passou a se vender o mito do “Homem (vejam só, sempre ele no masculino) que se faz” (em tradução direta do inglês “Self-made man”). Dessa forma, milhões foram jogados na informalidade, sem garantias, e equiparados a grandes empresários, sendo contados como se empregados fossem.

Mas divago, o assunto aqui é felicidade. E do egoísmo é que se produz essa “felicidade individual”, afinal o EU está no centro de tudo: Sou feliz com um carro novo, mas não sou tanto se meu vizinho também tem um carro novo. A história de que a grama do vizinho é sempre mais verde.

Diuturnamente somos inundados com dicas (muitas vezes não solicitadas) no sentido de que você tem que fazer por você, que você basta, que você que importa, que o outro que se vire. Mas será mesmo? Não estamos querendo reduzir e simplificar demais as necessidades humanas?

E se a felicidade não é um fim em si, mas o caminho? E se há algo maior além dela? E se a felicidade puder ser compartilhada? E se ela vive no sorriso que recebemos em troca de um favor? No agradecimento? Na gentileza que vem de volta?

Enfim, vivemos em sociedade e teremos, querendo ou não, de conviver com outros seres humanos como nós. Será que não poderíamos compartilhar mais, para espalhar mais felicidade por aí?

Exigir que políticas públicas contemplem cada vez mais necessitados, promovendo-lhes o necessário bem-estar, e nos regozijar com cada vez mais pessoas bem sucedidas, ao invés do endeusamento de diversos herdeiros milionários que tiveram tantas facilidades em suas vidas?

Buscar a promoção de mais oportunidades a todos, para que todos tenhamos um início comum, e cada um possa escolher seu próprio fim em si? Claro, são perguntas simples para respostas cada vez mais complexas, no entanto, sempre que me sinto egoísta, penso nas palavras de José J. Veiga em Sombras de Reis Barbudos (Bertrand Brasil, 1998):

“As pessoas falam muito de felicidade, se atropelam para serem felizes, mas poucos se interessam pela felicidade dos outros. É um erro porque a felicidade de um beneficia a todos.” (p. 20)

Luiz Inácio com o povo brasileiro no topo da rampa: a felicidade que a todos aproveita. (Foto: Reuters)

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