Essa dor vai embora?
Uma das mais importantes características do ser humano é a capacidade de se colocar na pele de seu semelhante. Ao fazer isso, além de se sentir feliz com o sucesso dele, pode, também, sentir sua dor, sensibilizando-se com seus problemas.
Mas essa faceta de caráter não é vista, comumente, em terra brasilis. Afinal, somos governado e ditados por uma elite, vergonhosamente, pró morte, que não estão nem aí para os órfãos ou para as mães que choram. Ao menos não para as de Eldorado dos Carajás, ou do Carandiru, ou, mais recentemente, do Jacarezinho.
Tanto se fala em proteger as crianças do, tão famigerado, aborto, mas depois que elas nascem, é perfeitamente normal arrastar adultos para seus quartos e executá-los a tiros, como se elas tivessem de se acostumar, se naturalizar.
E daí se eles estavam desarmados? E daí se se renderam? E daí se eram famílias? A Constituição e o Código Penal não prestam, não têm de ser seguidos. O Estado, que detém o monopólio da segurança pública, agora tem de matar, porque mata a sede de sangue de quem detém o poder.
A desculpa de que “estavam armados e revidaram” está por toda parte, menos de quem, efetivamente, estava lá. “Mas mataram um policial!”, de fato, uma tragédia, mas isso justifica a morte de outras 28 pessoas? E o desmanche das cenas de execução, para dificultar o trabalho da perícia?
Uma questão que sempre permeia nossas mentes: Seria assim no alphaville? No belvedere? No leblon? de certo de que não. Já dizia a Elza: A carne mais barata no mercado, é a carne negra.
Daí você me (e se) pergunta: “Essa dor uma dia vai embora?”. E eu lhe respondo: Não sei. Não sei porque não sei o que os donos farão dela. Se se tornarão dóceis ou se reivindicarão seu espaço. Sei que, enquanto ela não chega em mim, tenho de lhe dar espaço, para que outros se choquem como eu, e como eu resolvam fazer algo a respeito.