Fábula da Mãe de Mathilda (Homenagem a Sidney Barreto)

Arnoldo sim era uma pessoa estranha. Seu trabalho? Pular muros. Seu hobby? Vestir roupas alheias. Em noites de lua cheia, procurava varais com vestimentas a secar, alienava-as e usava-as frente a um enorme espelho oval. Via-se e regozijava-se.
Porém, ele tinha uma paixão. Seu nome? Emília. Uma garota que, vez em quando, projetava-se para fora da floresta e saia a cantarolar e brincar pelo mundo. Por mais que buscasse seu amor, Arnoldo sofria de um tal “domínio astronômico”, que fazia-o sentir-se em uma “rodovia interestelar”, afastando-o e impedindo-o de ver Emília brincar.
Ainda assim, a criança pedia “Ah, mãe, me conte mais…”, e logo Arnoldo retornava, pedindo por mais luz ali, para que pudesse observar a bicicleta que havia pegado emprestada. Ela tinha uma cesta, um sino que toca e tantas outras coisas que ele tinha colocado para que ela ficasse mais bonita.
Ele se lembrou de um dia antes de hoje, um dia em que éramos jovens, em que podia observar o lado escuro da lua, enquanto dirigia os controles para o coração do Sol (e, por isso, ficou com um, enorme, dano cerebral).
Arnoldo tem um amigo: Eugênio. Eugênio gostava de maçãs e laranjas e, portanto, era chamado de Homem Vegetal. O problema é que ele não tomou cuidado com um machado, e daí se acidentou. Gritou de pavor.
Arnoldo ainda é jovem. Perguntado se não devia estudar, prontamente respondeu: “Para quê? Não precisamos de educação. Basta brilharmos como um diamante louco!”. Pensando bem, será que ele não tem razão?

- Roger Keith “Syd” Barrett nasceu em Cambridge, Inglaterra, em 1946. Foi fundador e primeiro líder da conceituada e celebrada banda Pink Floyd. Após cerca de sete anos de trabalho na cena da música psicodélica inglesa, Syd, então abalado pelo consumo de drogas (que agravaram sintomas de esquizofrenia do artista) se tornou uma pessoa reclusa, afastando-se do meio musical.
- Foi substituído por David Gilmour, e homenageado por seus ex-colegas de banda em composições como “Wish You Were Here” e “Shine On You Crazy Diamond”. Morreu no dia 7 de julho de 2006, devido a um câncer no pâncreas.
- Este texto foi publicado, originalmente, no Jornal Voz Acadêmica, do Centro Acadêmico Afonso Pena da Faculdade de Direito da UFMG, em 2007.