Pelé.

Vi um perfil santista dizendo que quem torce para o Santos sentiria mais a morte de Pelé. Mas vou além, sem querer ser sommelier de tristeza e sentimento: quem é negro sente, e muito a morte de Pelé.
Explico.
Após a copa de 1958, pode-se dizer que, em lares que havia predileção pelo futebol, não houve menino ou menina negra que não ouviu falar de Pelé, ou que, caso jogasse futebol, queria ser como Pelé. Isso porque Pelé não foi um mero jogador de futebol, Pelé foi o futebol.
Pelé mudou as regras do jogo: ele não era só bom, ele era muito bom. Mas não era só muito bom, ele era espetacular. Mas não era só espetacular, ele era excepcional. Pelé era tudo isso e muito mais. Arrisco dizer que não haverá, nunca mais, um jogador de futebol como ele.
E se ele foi um ser humano falho, e que evidentemente, não tem como voltar ao passado e consertar o que fez de errado, ao menos nesse ponto particular podemos ser melhores que ele. Mas jogando futebol não.
Mais do que isso, nos últimos dias vieram à tona sua participação em campanhas como as das Diretas Já, sua atuação no Ministério dos Esportes, e na campanha dos 100 anos da abolição da escravidão do Ministério da Cultura, ou seja, besteira dizer que não se envolvia em causas sociais.
Podia se envolver mais? Sim. Mas não se omitiu. Além disso, elevou, junto com seus companheiros nas copas de 58 a 70, o patamar do futebol brasileiro, sendo, em campo, tricampeão mundial (Zagallo foi bi em campo, tri como técnico, e tetra como coordenador).
Além disso, em um país racista como o Brasil, ver um jovem preto, de origem humilde, se tornar o expoente máximo do futebol em todos os tempos, fez sonhar toda uma leva de outros jovens, para os quais ele sempre deu atenção, seja em campanhas pela educação ou contra a fome.
Pelé não merece ser chamado Rei do Futebol, Pelé DEVE ser chamado de Rei do Futebol. E até eu, um republicano convicto com ojeriza à monarquia, me curvo à sua majestade. Pelé não é uma resposta. Nos gramados, Pelé é uma pergunta, e a resposta é sempre sim.
