Sobre cabelos, baratas e genocidas.

Em mais uma atitude desesperada para desviar a atenção da CPI da Covid, o atual mandatário desta nação, ao abraçar um apoiador que ostentava um, generoso, penteado Black Power, disse as seguintes palavras: “Estou vendo uma barata, estou vendo uma barata aqui…” e “Falou, cabeludo, tem piolho na sua cabeça, tem cloroquina”.
O cabelo afro é mais que um cabelo, é uma identidade visual. Representa quem somos, de onde viemos, nossas origens e raízes. Por muito tempo, foi tratado como “cabelo ruim” por pessoas ignorantes e racistas, que acham que o cabelo crespo é inferior ao cabelo liso.
Ledo engano, cada cabelo é como é, e simboliza o que simboliza. Porém, em se tratando do senhor que proferiu tais vocábulos, isso parece não fazer diferença. Porque para ele, para todos aqueles que o apoiam, isso não faz diferença.
Basta ver sua indicação para a maior e mais importante Fundação de fomento à cultura Afrobrasileira. Um ser ignóbil e falacioso, espalhador de notícias falsas, de maus testemunhos e péssimos bofes. E por quê? Porque é assim que essa gente se comporta. É neste ambiente que esse pessoal se cria. Cabendo, a nós, ignorá-los, e relegá-los ao, tão merecido, ostracismo.
Aliás, isso não está somente no que tal senhor diz/professa. Isso está arraigado na mentalidade nacional. Certa vez, em um grupo coarado de advogados, li o papo (sempre ele) de “cabelo ruim”. E ele não está somente lá, mas em toda parte.
O almejar cabelos lisos para todos, associando-se o crespo, e o cacheado, ao sujo, somente tem o condão de nos dissociar e rebaixar, o que é muito útil. Útil pois nos separa, nos humilha e retira a vontade de responder e revidar. E em uma sociedade racista, isso conta muito.
Concluamos, de uma vez por todas: Nós somos nossos cabelos, nossos narizes, nossos tons de pele. Somos, em grande parte, força motriz desse país. E não será uma piada preconceituosa, e criminosa, que vai nos diminuir. Eles passarão, nós passarinho.