Tudo o que tenho são memórias…

Daniel Hilário
3 min readMay 2, 2021

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Foto mostrando o piloto Ayrton Senna
Ayrton Senna da Silva

Uma coisa é indiscutível: Ayrton Senna fazia bem para o brasileiro. Por quê? Porque junto com suas vitórias, trazia aquela orgulho esportivo. O sabor de ser o número 1, para um povo sofrido que havia acabado de sair de uma ditadura militar, mas que ainda vivia a hiperinflação, e surtos de doenças como cólera (como não se lembrar das propagandas mandando ferver a água antes de consumi-la?).

Seu foco e obstinação em ser o melhor só eram páreo para seu messianismo. Me aferro à definição do, sempre ótimo, Flávio Gomes, em que cada corrida era uma cruzada contra o inimigo. Ayrton soube se aproveitar muito bem da mídia (e não há problema algum nisso). Só não foi um herói, em minha opinião. “Infeliz a nação que necessita de heróis…”, dizia Bertold Brecht.

Naquele primeiro de maio de 1994 eu estava na casa da minha tia avó, que criou meu pai. Meus pais ainda eram casados, e domingo sim, domingo não, íamos para lá. Eram dias felizes. Naquele, ia assistir a corrida com meus tios e primos. Sabia bem que Ayrton estava na pole e de seus problemas nas duas primeiras corridas. Sabia, também, dos acidentes de Barrichello e da morte de Ratzenberger no dia anterior. E eu tinha 8 anos.

Como meu pai era Editor de Esportes de um jornal de grande circulação de Belo Horizonte, desde pequeno acompanhava as jornadas esportivas com ele, às terças e sábados. Por isso, naquela idade, já tomara gosto por assistir faixas esportivas na televisão, e Fórmula 1 era uma de minhas favoritas.

Quando, na volta 7, Ayrton bateu, não fazia ideia do que se passava. Para mim, era apenas um fim de corrida, e que na próxima ele estaria de volta, afinal, era o principal piloto brasileiro naquela categoria. Mas ele não saía do carro. E foi atendido na pista, e foi retirado de lá na maca, por um helicóptero.

Mas ele ia se recuperar. Não foi o caso. Ainda me lembro, a tarde, quando Roberto Cabrini disse: “Morreu Ayrton Senna da Silva.”. Era inteligível a frustração. O principal piloto brasileiro, na principal categoria do automobilismo mundial havia falecido. As honras não eram em vão.

Porém, cabe lembrar, ele não foi o único a ganhar lá: Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet já tinham alcançado o posto maior antes, aliás, ambos ganharam os seus cinco títulos, somados, antes de Ayrton conquistar o seu primeiro, o que rendeu a dobradinha brasileira em títulos em 87/88 (Piquet e Senna, respectivamente).

27 anos depois, ainda é instigante a idolatria que se tem em relação a Ayrton. Piloto excepcional? Sim. Pulverizador de recordes? Sim. Mas os números não mentem. Tantos outros, estrangeiros, alcançaram glórias acima dele. Ao menos um brasileiro o igualou em títulos.

Hoje, em uma categoria esportiva (há quem diga que automobilismo não é uma categoria esportiva) bastante elitista, temos um homem negro, Sir Lewis Hamilton, pulverizando recordes e com sete (sim, quatro a mais que Ayrton) títulos mundiais, nada mal, não?

Sua morte catapultou seu nome? Talvez, mas antes ele já era ídolo. Antes ele já inspirava. Que seu foco e trabalho nos sirvam de lição para que, juntos, construamos caminhos conjuntos de sucesso.

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